30 de maio de 2010

Supervisão

"O que é um supervisor, mamãe?"
(a mãe, saindo do carro apressada, olha para a criança. No meio sorriso, um misto de orgulho pela pergunta inteligente e apreensão. Como explicar isso para um menino de 4 anos?)
"Ah, eu sei! Ele tem uma Super Visão, né? É como o super-homem!"

Sempre que contava essa história para meus supervionandos, me lembrava dele. Com um misto de doçura, tristeza, saudade, admiração...

Não, ele não era um super-homem, ou talvez fosse. Era super engraçado e tinha mesmo uma super visão. As sessões de supervisão eram sempre animadas, contava sempre as mesmas anedotas, mas eram sempre engraçadas. As observações sobre os casos não eram particularmente consistentes em termos teóricos e, muitas vezes, os nomes das técnicas eram trocados. Mas, sua experiência como psicoterapeuta era vasta, intensa. Vestia-se sempre de branco, hábito incomum em psiquiatras, parecia um pai-de-santo. Nas aulas, aprendia a ser psicodramatista, com ele aprendia a ser psicoterapeuta. Aprendi como me valer dos conceitos para colocar em prática a filosofia do criador do Psicodrama. Meu supervisor ensinou-me que a grande técnica era a disponibilidade verdadeira para o encontro com as pessoas e suas dores, nas suas variadas formas.

Era um super-homem. Super consciente de sua atividade como psicoterapeuta, uma atividade profissional. "É o seu trabalho, estudamos muito e vamos continuar estudando para realizá-lo bem. Como supervisor, estou ensinando 'o pulo do gato', tenho que cobrar mais que os outros." Me ensinou a pagar e a cobrar pelos serviços. Me incentivou a abraçar a carreira pública como modo de "fazer uma distribuição de renda justa: quem pode pagar paga bem, quem não pode, não paga nada."

Era apenas um homem. Ironicamente, não usou seus conhecimentos para si mesmo. Eu nunca soube ao certo o que aconteceu. Eu fazia supervisão com outra pessoa, não nos víamos há alguns anos. Pelo que me contaram, estava deprimido, seriamente. Parece que consultou um colega de outra cidade, os colegas de sua geração mencionaram uma crise familiar, nós seus alunos, não soubemos de quase nada.
Enforcou-se, com uma corda sintética presa à maçaneta do consultório.

"Um supervisor, meu filho, nos ensina muitas coisas. O meu primeiro supervisor me ensinou que ninguém vê tudo."

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