9 de março de 2010

As não conversas

Minha mãe acha que não sou suficiente para a profissão que escolhi. Que o prédio irá cair. Os cálculos talvez estejam errados.
[Qual é o prazer em me deixar tão impotente? Por que precisa de mim assim?]

Minha mãe tem chiliques com meu pai. Acha que ele pode trair. Que qualquer dia destes vai beber demais. Que vai comer qualquer piranha por aí.
[Você se acha tão pouco atraente assim?]

Minha mãe é a melhor amiga da minha irmã. Diz que é preventivo. Que é preciso ficar por perto porque ela pode arranjar homem errado. Que só tem picaretas na praça.
[Você morre de inveja dela... Ela é jovem, linda e, para seu azar, muito sexy!]

Minha mãe faz qualquer coisa para proteger a família, fazer manutenção dos laços. Programa festa disso e festa daquilo. Diz que seus pais foram muito felizes, que seus avós também foram, que a tradição está se desmanchando em função de uma modernidade idiota.
[Você tem horror de pensar que um dia pode ficar sozinha...]
.
.
.
[Eu teria tanta coisa para te dizer, mãe, mas temo que você não suporte. Por isso, tudo fica na minha cabeça, pesada. As falas que não saem tomam meu corpo e minha vida. E você se defende, acusa, acusa... Não sei se quando você morrer, as falas irão também. Por enquanto, o que me amarra é uma enorme pena, pois você está irremediavelmente sozinha. Minha irmã não ficará aqui muito tempo, meu pai já tem várias amantes e eu, me caso no próximo ano e vou morar em Porto Alegre, como você nega... ]
[Pobre mãe.. Tudo já acabou.]

[....]

Nenhum comentário:

Postar um comentário