Sempre foi um mistério para mim: quem teria sido meu pai?
Lembro de alguém, na infância, apontar um rosto e dizer aquele é seu pai. O rosto não lançou um olhar para mim. O vazio no registro civil era uma humilhação, um vazio, uma libertação.
Construí, a partir disso, muitas histórias. Os muitos nomes dele, histórias para ele, justificativas para ele. Preferia acreditar que fosse bom, que não fosse um cafajeste, como ouvi de minha avó, um dia, escutando atrás da porta.
As explicações eram sempre ralas, improváveis. Um dia me cansei e não perguntei mais.
Uma mudança, no entanto, aconteceu quando minha mãe morreu. Nos dias que antecederam a morte me disse: este é o nome dele e esta é a cidade dele. Apenas isso enquanto apontava um cartão amarelado.
Os meses se passaram e um dia, comecei a procurar pelo homem.
Foi facílimo encontrá-lo no pequeno povoado do interior de Minas Gerais. Morava com sua mulher. Era senhor com mais de sessenta anos. Eu disse sem muitos rodeios quem eu era. O homem não mexeu nenhum músculo. Apenas disse Ah,tá bom... como se esperasse por isso fazia muitos anos. Ficamos nos olhando por curiosidade checando as semelhanças e diferenças, em uma espécie de jogo dos sete erros. A esposa trouxe um cafezinho feito na hora em uma xícara branca. Falamos sobre o tempo, sobre morar na cidade grande, sobre as chuvas. E nada mais.
Eu não sei porquê, mas preferi continuar brincando com os meus inúmeros pais, na imaginação.
13 de dezembro de 2009
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