9 de dezembro de 2009

No aeroporto

Ela começou a escrever principalmente para evitar o doce e melancólico olhar que a senhora sentada à sua frente insistia em lançar. A senhora havia tomado conta de suas coisas enquanto ela foi em busca do celular, esquecido no balcão de embarque. Na volta, a senhora ouviu as últimas palavras da conversa ao telefone:
"A gente se fala.. Beijo". A senhora viu suas lágrimas.

Ela chora muito, mas apenas na presença da beleza extrema, obras de arte, música, teatro, filmes como o de ontem à noite e livros... Ela nunca chora por suas tristezas. Ela é uma mulher muito racional, nunca chora por si mesma, nunca. Mas hoje não. Hoje ela chora, chora por ele. É para ele que ela escreve? Não se pode dizer. Ela escreve no computador e também em um pequeno bloco de anotações. Ela escreve para evitar o olhar das pessoas que esperam pelo embarque, para evitar que vejam suas lágrimas.

"Mas, por que ela chora?" pensa a senhora. A senhora olha para ela uma última vez e sai andando. Ela tem lágrimas em seus próprios olhos, ela sabe, ela se lembra como é doloroso dizer adeus. Uma vez teve alguém que amava e precisou deixar, ela lembra. Despede-se como se a conhecesse: "Tudo de bom!" É verdadeiro, a senhora realmente deseja que ela pare de chorar. Realmente deseja que ela veja o amado novamente, em breve. Pelo que ouviu - ela falava com ele tão carinhosamente - parece evidente que são felizes, deve ser apenas uma questão de tempo. A senhora caminha de volta para sua própria vida, vagarosamente, imaginando o futuro.

Ela olha o grande relógio na parede, uma voz metálica convida para o embarque.
O telefone toca e ela pensa: "É ele. Atravessou a chuva, o rio bloqueando a rua, o engarrafamento e veio ao aeroporto." Por um instante antecipa o beijo,o abraço, o tempo que não tiveram. Os carinhos que ela tanto deseja e são tão raros com ele.
Não é ele. Um amigo, preocupado com as notícias da enchente, se oferece para apanhá-la, caso ela não consiga embarcar. Ela sorri. Assegura que está tudo bem, o vôo sairá no horário. "Obrigada pelo cuidado!"

Mais lágrimas. Mais uma viagem. Ela escreve a última carta.

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