14 de junho de 2009

SEGREDOS

Marisa, Cláudia, Tereza, Vilma, Cíntia. Afinal, quantos nomes? Só mulheres? Reunidas em um grupo iniciante elas pareciam à vontade, chegavam juntas ruidosamente. Empregavam um tempo comentando as roupas, cortes de cabelo, novidades sobre filmes e livros. As perguntas sobre a composição final do grupo e sobre o sexo das participantes voltavam a ser formuladas várias vezes. Eu pensava se havia esquecido algum item do contrato e, pelo sim pelo não, reiterava: "São oito vagas, teremos sempre a aprovação do nome do novo integrante antes da inclusão de um novo membro. Esse não é um grupo de mulheres, homens poderão ser integrados ao grupo, se vocês concordarem."

Elas riam, acenavam com a cabeça, repetiam sim, sim, sabemos. E as sessões decorriam como esperado, elas procuravam similaridades em suas histórias díspares, filhos, empregos, amores. Identificavam diferenças, reações mais ansiosas, mais depressivas, alternâncias marcantes entre as duas polaridades.

"Vamos ser só mulheres? Eu acho que sim." "Será que algum homem terá coragem de nos enfrentar?". Risos. Eu me intrigava, o que elas estavam tentando me dizer/pedir? O primeiro mês transcorreu, o segundo. Cenas mais intensas, abusos na infância, violência conjugal, crises depressivas com alucinações. As mais complexas, intercaladas com sessões de compartilhamento. Parecia que tudo caminhava bem e me acostumei a apenas rir com elas, quando as tais perguntas se repetiam. Era minha primeira experiência com grupo homogêneo em relação a gênero, mas eu não identificava nenhuma diferença importante em relação aos mistos. Consultei a literatura, colegas, nada parecia apontar uma característica digna de nota.

Lá pela metade do terceiro mês, propus o ingresso de dois homens. Pensei que seria mais fácil para eles e elas se não fosse apenas um e tinha dois pacientes com indicação para grupo e horário compatível. Os nomes foram submetidos, elas aprovaram com muitos risos e conjecturas sobre a aparência de Carlos e Manuel, casados, na faixa dos 30-40 anos, como elas.

No dia em que eles iniciaram tudo parecia bem. "Pensamos que seríamos um grupo só de mulheres, mas vocês vieram, né?" Histórias com similaridades, "eu me sinto assim também", "eu sei como sua mulher/marido/namorado se sente". Diferenças: "difícil representar você naquela cena, não sei bem como representar um homem/mulher", "homens!" "ah! Vocês mulheres!"

O primeiro mês transcorreu tranqüilo. No segundo, faltas freqüentes. Um dia não houve sessão porque não tivemos quorum. Véspera de feriado, pensei comigo. Algo parecia não avançar, eu não conseguia entender. Quem sabe um jogo sociométrico? Poucos resultados práticos, demoraram a se aquecer, falas e interações apenas racionais. A emoção não aparecia.

Pouco tempo depois, uma das mulheres alegou problemas de horário e voltou para individual. Um dos homens enfrentou uma crise mais intensa e também foi para individual. Teresa e Cíntia consideraram que tinham "resolvido os problemas", "superado o pior", estavam bem e saíram. Com apenas três componentes o grupo terminou em menos de seis meses.

Eventualmente, as pessoas foram para outros grupos, voltaram para atendimento individual. Teresa, alguns meses depois, pediu uma sessão individual. Pensei que sua mãe, gravemente doente há muito tempo, poderia ter falecido ou o filho que estava morando com seu primeiro marido ter voltado. Ela chegou dizendo que viera me contar porque o grupo terminara. Me surpreendi. Ela completou: "Pois é, você nunca soube, mas nós contrariamos as regras e nos encontrávamos fora daqui. Aliás, desde a segunda sessão, nos reuníamos em uma confeitaria, antes das sessões. No começo, era como você diz, um aquecimento, depois, tornou-se o "grupo do B" e depois que os "meninos" entraram a situação ficou insustentável, não queríamos chamá-los para nosso "cafezinho terapêutico", mas só falávamos sobre eles. Sempre soubemos que era necessário contar para você, mas não tivemos coragem. Com idas e vindas, continuamos nos encontrando até a semana passada, mas não era a mesma coisa e resolvemos parar. Eu fui escolhida para contar porque estou bem e não pretendo voltar para a terapia agora."

O que vocês temiam? Perguntei cada vez mais surpresa. "Que você nos reprovasse, que investigasse para que fazíamos isso... Sei lá! Era nosso segredo."

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